A depressão é a doença psiquiátrica com maior prevalência ao longo da vida. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde até 300 milhões de pessoas no mundo convivem diariamente com esse transtorno.
Com idade média de início por volta dos 24 anos de idade, costuma acometer 2 vezes mais mulheres que homens e é uma das doenças com maior taxa de incapacitação e perda de anos de produtividade.
O que é a depressão?
A depressão é um transtorno psiquiátrico caracterizado por tristeza persistente, assim como por infelicidade, perda do prazer em atividades que antes eram prazerosas, irritabilidade, pensamentos negativos, falta de energia, dificuldade de concentração, além de alterações de sono e apetite.
É importante levar em conta que todos podemos apresentar episódios de tristeza ao longo da vida, principalmente ao sermos expostos a situações traumáticas como a perda de algum familiar. Essa tristeza considerada normal é passageira e interfere pouco com o dia a dia. A tristeza presente na depressão é mais intensa, persistente, além de estar associados a vários outros sintomas que prejudicam a funcionalidade da pessoa.
Uma grande parte das pessoas com esse diagnóstico apresenta episódios repetidos ao longo da vida.
Causas de depressão
A grande dúvida que paira sobre a cabeça da maioria das pessoas com depressão é: “a minha vida é ótima, por que eu me sinto assim?” ou “eu não deveria estar me sentindo assim”.
A preocupação com o julgamento de pessoas próximas é comum e muitas vezes as pessoas com depressão escutam frases como “você não tem porque ficar assim”, “isso vai passar se você rezar”, “isso é frescura”. O que acaba as afastando de procurar ajuda psiquiátrica, que seria algo essencial nesses casos.
Longe de ser “frescura”, a depressão apresenta várias causas:
- Fatores biológicos:
- Neurotransmissores: muito se estuda sobre as alterações de neurotransmissores. Há alterações em serotonina, dopamina, noradrenalina, glutamato, GABA e outros.
Ainda neste ano uma revisão sistemática foi publicada na revista “Molecular Psychiatry” questionando a relação das alterações da serotonina com a depressão, porém sabe-se que esse não é o único neurotransmissor envolvido na doença, portanto não são apenas seus níveis que determinam se uma pessoa tem depressão ou não.
- Alterações da tireóide: até 10% das pessoas com depressão apresentam níveis alterados de hormônios tireoideanos
- Alterações do sono: As pessoas com depressão costumam apresentar alterações importantes do sono como: despertares noturnos, diminuição do tempo de sono, aumento de temperatura e outros
- Disturbios hormonais: Há várias disfunções hormonais importantes. Dentre essas alterações talvez a mais importante seja no eixo HPA. Esse eixo está relacionado com o controle do cortisol, hormônio com alta atividade inflamatória.
- Fatores genéticos: a depressão é uma doença com alta carga genética. Pessoas com um pai com depressão tem até 25% a mais de chance de ter a doença que a população geral, se os dois pais apresentam a doença essa chance dobra (até 50%)
- Fatores psicossociais:
- Acontecimentos de vida: situações estressantes da vida costumam estar relacionadas ao aparecimento do primeiro episódio depressivo, assim como dos episódios subsequentes. O estresse que acompanha o primeiro episódio depressivo costuma resultar em alterações cerebrais crônicas, relacionadas a maior chance de apresentar novos episódios.
Sinais e sintomas da depressão
O humor deprimido e a perda de interesse ou prazer são as principais características da depressão. Normalmente essas pessoas costumam se sentir tristes, além de se sentirem “inúteis”. Outras características do transtorno são:
- Perda ou ganho de peso, sem estar fazendo algum tipo de mudança alimentar
- Insônia ou aumento do sono
- Agitação ou retardo psicomotor (a pessoa se torna mais quieta que o normal)
- Cansaço ou perda de energia
- Sentimentos de culpa excessivos
- Diminuição da concentração e da capacidade de tomar decisões
- Alteração da memória (esquecimentos)
- Pensamentos sobre morte ou suicídio
Pessoas com transtorno depressivo apresentam taxas muito maiores do comorbidades como: Transtornos por uso de álcool, ansiedade (presente em até 90% dos casos), obesidade, Hipertensão arterial, Diabetes, Doenças cardiovasculares, Demências (como a Doença de Alzheimer), Transtorno de pânico e TOC.
Muitas pessoas com depressão costumam não se queixar da doença, pensando se tratar de algo passageiro. Dessa maneira acabam se isolando da família, amigos e se afastam do trabalho e das atividades que antes eram prazerosas.
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Tipos de depressão
Existem tipos variados de depressão com características diferentes, dentre os quais temos:
- Clássica: quem tem essa depressão apresenta os sintomas clássicos, como perda do prazer ou interesse, tristeza, além das outras alterações já descritas
- Atípica: as pessoas com esse tipo de depressão costumam ter um quadro diferente do habitual. Normalmente apresentam aumento do apetite, aumento do sono, além de associação importante de sintomas de ansiedade e agitação
- Pós-parto: A depressão pós parto normalmente ocorre dentro do período das 6-8 semanas após o parto, porém pode ocorrer por todo o primeiro ano. Costuma estar associado a sintomas ansiosos assim como pensamentos obsessivos e agressivos (por exemplo relacionados a agredir o bebê). Escalas são utilizadas para esse diagnóstico, que necessita ser realizado e tratado o mais precoce possível.
- Sazonal: Algumas pessoas apresentam sintomas depressivos em uma certa época do ano, normalmente o inverno, porém pode ocorrer em qualquer período. Normalmente essas pessoas respondem a tipos diferentes de tratamento.
- Psicótica: Alguns pacientes com depressão podem apresentar sintomas psicóticos (alucinações, delírios), que normalmente evidenciam um quadro mais grave.
- Bipolar: Pessoas com tratamento repetitivos de depressão que não apresentam resposta a antidepressivos podem apresentar um quadro de depressão bipolar. Normalmente é caracterizada por ser um tipo de depressão mais agitada, com associação de sintomas ansiosos e alterações importantes do sono.
Tratamento da depressão
O mais importante da depressão é a identificação e tratamento precoce do quadro. Sintomas leves podem ser tratados apenas com psicoterapia, porém em grande parte dos quadro é necessário o uso de antidepressivos.
Os antidepressivos costumam não apresentar resposta imediata, necessitando uma espera de até 4 a 8 semanas (apesar de alguma pessoas com poucas semanas já apresentarem boa resposta). Até 30% dos pacientes não respondem ao primeiro tratamento, necessitando outras tentativas, que costumam apresentar boa resposta, portanto não abandone o tratamento após uma primeira tentativa sem sucesso.
Os antidepressivos costumam ser cercados por preconceito que na verdade é fruto do desconhecimento das pessoas sobre essa medicação. A grande maioria dos antidepressivos utilizados não possui risco de dependência e os principais efeitos colaterais ocorrem principalmente durante o período inicial de adaptação ao tratamento.
Dentre os efeitos colaterais temos: sonolência (nem todos os antidepressivos causam), alteração de libido, alteração de peso, ansiedade e outros. O mais importante é que tais efeitos costumam desaparecer após os primeiros dias de tratamento, sendo que se persistentes pode ser necessário a troca da medicação.
O tempo do tratamento depende do caso. Nos primeiros episódios o mínimo é de 6 meses, porém episódios recorrentes necessitam de um tempo maior, podendo ser de 1 a 2 anos ou tratamento contínuo.
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